Dia do Imaculado Coração de Maria

Minha memória devocional mais antiga é a dos corações de Jesus e Maria. Isso porque na casa da minha vó a parede era cheia de quadros de santos, mas este quadro era o que mais chamava minha atenção.

E não por um motivo bom: na verdade, eu tinha  medo e achava terrível dois corações à mostra, pegando fogo, um cheio de espinhos e outro cravado com uma faca.

Somente depois, quando conheci Jesus na adolescência, é que  fui compreender a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e, por consequência, o do Imaculado Coração de Maria.

No sábado (hoje!) fazemos esta memória porque foi num sábado que, pela primeira vez desde a anunciação do anjo, Maria ficou sem Jesus. Na sexta (João 19,25), ela estava junto à cruz. A Bíblia não destaca Maria na ressurreição, mas ela está presente entre os discípulos que aguardam Pentecostes (Lucas 1, 14). Não é razoável por isso, pois, pensar que ela não estava no domingo entre os apóstolos.

Mas, voltando à devoção:  li esta semana que este quadro é o mais encontrado nas casas da Bolívia e do Peru. Eu também, quando era criança, encontrava este quadro em quase todas as casas que eu visitava.

Era o jeito dos pobres viverem a sua fé. Num país analfabeto, a imagem era mais valorizada que as palavras. No entanto, sem o conhecimento catequético, a crença não distinguia a verdadeira fé católica das demais. Era comum entre os santos encontrar Iemanjá, pretos velhos e o Lázaro da parábola, indistinguível de São Lázaro de Betânia, irmão de Marta e Maria (João 11, 1-44)

Aqui, acrescento que a parábola de rico e Lázaro  (16, 19-31) era usada por minha mãe para nos fazer conformar com a pobreza. Não sei se mais gente pensava assim, mas é muito conveniente para as elites deixar para os pobres uma recompensa post morten.

Eu tenho minhas devoções, mas elas não podem substituir a fé. Que é diferente de crença. A fé provém da pregação (Romanos 10, 17), ou seja, da apresentação da Palavra de Deus. A crença é inata ao ser humano, diante da grandeza do universo (Romanos 1, 19-20).

O povo durante muito tempo ficou privado dos ensinamentos. A catequese era basicamente ensinar as fórmulas das orações (padre-nosso, Ave-Maria, sinal-da-cruz, credo) sem aprofundar no que significam estas palavras e gestos.

É preciso, pois, que catequistas entendam a importância de seu ministério na Igreja. O Papa Francisco entendeu: em maio último assinou o documento “Antiquum Ministerium“, formalizando a importância deste serviço. E por meio do ensino que o cristão vai poder viver plenamente a devoção ao Imaculado Coração.

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